Foi com a publicação de O ser e a essência (1948) que Gilson verdadeiramente irrompeu no debate filosófico contemporâneo, constrangendo muitos daqueles que só tinham ouvido falar do ser por intermédio de O ser e o nada (de Jean-Paul Sartre) ou do primeiro capítulo da Wissenschaft der Logik (A ciência da lógica, de Hegel) a admitir que esta pequena palavra, “ser”, que certa tradição idealista havia tentado inutilmente banir do vocabulário filosófico, abrigava, talvez, se não o destino do “Ocidente”, ao menos o lugar de uma de suas mais antigas e constantes querelas. Muitos se convenceram, ao ler Gilson, de que São Tomás teria ocupado nesse debate um lugar no mínimo original e importante, o qual não poderia mais ser ignorado, ainda mais – e sobretudo – ao se querer tomar partido na polêmica que então o existencialismo conduzia contra o suposto essencialismo de toda a tradição. Em suma, independentemente de suas virtudes próprias, este livro, desta vez reconhecido imediatamente como um livro de um filósofo, ainda que também seja um livro de historiador, teve, ao mesmo tempo, o mérito e a sorte de vir em boa hora, de responder à expectativa difusa de um público filosófico que acabava de “descobrir”, por meio de Sartre e sobretudo de Heidegger, a importância e – poder-se-ia dizer – a atualidade persistente da questão: o que é o ser? Pierre Aubenque, Étienne Gilson et nous, p. 79.
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